A distância

A distância do corpo,
que carrega na pele as lembranças
dos momentos que dividimos juntos,
É equilibrada com o esforço da memória,
que recria na mente
o contorno dos nossos sorrisos,
o cheiro do nosso sexo
e o toque do nosso abraço.
E, assim,
o coração vai buscando
compensar a falta
com o que foi possível viver
e o que ainda está por vir.

Desse momento

Desse momento

Em que nossos tons de pele se confundem

E que quase não há palavra

Você segue em mim ainda por uns dias

Mas depois passa

E volto a ser só.

A vontade de voltar a te ver

É mais uma teimosia da cabeça

Que uma necessidade

Porque a lembrança do teu toque

Já vai desvanecendo

E a vontade do teu beijo

É, na verdade, a vontade de qualquer beijo.

Desobediência?

Texto de Fàtima Aatar traduzido por mim

Dizem que as migrações são um fato natural das populações humanas. Um argumento recorrente erguido contra a xenofobia. No entanto, este argumento bem intencionado previne que a xenofobia e, sobretudo, o racismo não é contra quem migra, mas sim contra um determinado tipo de pessoas que às vezes migra e às vezes não, como seria a população cigana ou as denominadas segundas gerações. Esta lógica não é apenas um arrebatamento das classes populares, mas sim um fato fortemente institucionalizado que no caso espanhol se reflete na denominada Lei de migração.

Muitas pessoas migrantes e racializadas viram na construção da República catalã uma oportunidade para se desfazer dessa Lei que as acorrentava. No entanto, a primeira surpresa chegou quando o censo eleitoral para o referendo não incorporava as pessoas residentes, ou seja, que aquelas pessoas não nacionalizadas pela Lei de migração espanhola também não poderiam exercer o seu (não)direito ao voto no referendo. Mas a grande surpresa se manifestou com a Lei de transitoriedade apresentada ao Parlamento, que também não incorporava as pessoas migrantes. Podemos dizer que durante a redação da Lei de transitoriedade fizeram um copy-paste da Lei de migração espanhola mudando “nacionalidade espanhola” por “nacionalidade catalã”, de maneira que, quem terá a nacionalidade catalã será quem anteriormente já tinha a espanhola. Já é problemático que esta nova República comece o seu caminho excluindo, mas é ainda mais problemático que esta exclusão seja por falta de vontade política. Por isso, me vêm à mente perguntas incômodas, mas que muitos terão pensado: como é possível que em um exercício de desobediência política, jurídica e social não se tenha desobedecido nessa questão em concreto? Por que se escolheu herdar a Lei de migração espanhola tendo em conta que é das questões mais características do regime? Desobediência? Quando e para quem?

Diante da falta de vontade política para mudar tudo, temos que ser radicais e ir à raiz da questão para entender a “problemática”.

E coloco “problemática” porque si olhamos objetivamente não é uma problemática, na verdade é sintomático do sistema capitalista ocidental que se manifesta desde a estrutura global até a local. E aqui assinalaremos uma das questões que a esquerda branca não quis nem entender nem encarar, que o racismo não é uma consequência mais do capitalismo, mas sim que foi e é uma das condições que o fizeram possível. Por isso, dizemos que quando nós percebemos uma questão como problemática, é preciso entender que é inerente ao bom funcionamento de tal sistema e como expressava o pensador antirracista Helios F. Garcés quando dizia que “onde vocês vêem uma consequência do capitalismo, outros olhos vêem um projeto civilizatório destrutivo do qual o capitalismo forma parte; que onde vocês percebem uma crise sem precedentes, outras mentes reconhecem uma Antiga crise genocida, epistemicida, extrativista e colonial que já dura mais de 500 anos”. Sim, mais de 500 anos, por isso apostamos por uma ruptura não com o regime de 78, mas sim com o regime que se perpetua desde 1492 que romperia com o racismo inerente ao Estado espanhol.

É preciso entender, então, que o racismo institucional existe de tal forma que se blinda diante das mudanças políticas, ou seja, sem desobediência não há mudança já que é capaz de se reinventar para manter o status quo. Um destes mecanismos é a impossibilidade de participação política institucional. Sim, é certo que as mudanças não vêm desde as instituições e sim desde as ruas, no entanto, a pressão política só é possível quando há uma oposição forte e unitária. Por isso, a falta de representatividade política leva a que as necessidades das pessoas migrantes não estejam representadas nem defendidas desde o eixo materialista, ou seja, o eixo que se incrusta nos corpos das pessoas, que paralisa a vida de quem o sofre diante do medo e da incerteza deste sistema profundamente racista. É aquele mesmo eixo que sacode as pessoas para que se levantem contra as opressões e conscientes de que para mudar tudo é preciso tomar partido. É por isso que entendemos que a igualdade de gênero se está convertendo em tema transversal prioritário nas políticas públicas, porque as mulheres ocuparam as ruas, sim, mas também as instituições.

Haverá quem pense que agora não é o momento para falar disso, que tendo as forças de segurança encima isso não é importante, mas este estado de exceção, onde os direitos das pessoas deixam de operar ou diretamente não existem, as pessoas migrantes e racializadas o vivemos permanentemente. E é assim, repetindo as coisas até a saciedade, que se começa a introduzir nas agendas midiáticas e políticas para deixar de ser um tema banal. Quantas vezes se banalizaram as causas justas? Mesmo assim, o valor está em não se render.

Por isso, continuaremos nas ruas, fazendo oposição ao racismo institucional que se quer perpetuar na República catalã, não deixaremos que o sistema racista e colonial espanhol se mantenha, porque se não, não teremos criado um processo realmente transformador, nem será uma república para todos. Agora é preciso que vocês tomem partido para que isso deixe de ser uma simples efervescência momentânea e se materialize em uma República realmente para todos.

As malas

Lá vai ela de novo

Puxando as malas pela calçada

Cabelo arrumado e lábios pintados

De cima de seu salto ela segue

Determinada, olhar fixo, costas curvadas

E eu ainda não sei o que ela carrega

Naquele corpo

Te vi

Te vi bajando la calle. Tenías prisa.

Pero luego algo se te pesó.

Y pasaste a caminar más lento, los movimientos eran lentos, la mirada era lenta.

No te dabas cuenta de lo que pasaba en la calle.

No veías la gente, esa que te deja tediado.

Pero tampoco notabas las personas.

Te recordabas algo.

Sonreías, con los ojos cerrados.

Te detuviste un rato.

Sacaste el cigarrillo del bolsillo de tu mono jeans y lo encendiste.

A la esquina, en un café, te sentaste en una mesa en la acera.

Sacaste un libro de la mochila e lo dejaste sobre la mesa.

En la portada se leía Budapest.

No lo abriste, tampoco lo leíste.

Tenías la mirada perdida.

Seguías con la sonrisa en tu cara, la misma que te hace cerrar los ojos.

Volviste al mundo real cuando te preguntaron que querías.

Pero no sé qué pediste, iba retrasada otra vez más.

Oxum em mim

Água que corre
Lenta, vagarosamente
Às vezes tromba d’água, é verdade
Carregando o que tem pela frente
Sem avisar, sem dar tempo
Água que corre, sempre em frente
Mas às vezes pára
Pra descansar
Pra pensar
Porque precisa ficar
Ou porque precisam que fique
E depois segue, sem voltar
Segue ao encontro e sabe exatamente do que
Água que corre, lavando o caminho, tirando os espinhos
Que dá paz à alma, descansa o corpo e arranca a sede
Que faz a sinfonia da calma
Água que corre, que vai se tornando grande
Justamente pelos pedaços que encontra no caminhar
Pedaços dos encontros
De quem é água corrente

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Quelques haïkus

Très sympathique

L’humeur arrive aux gens

C’est temps de printemps

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Son coeur a gardé

Les mots qu’elle n’a pas dit

L’esprit déborde

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Les enfants dansent

Pour imaginer la vie

Que personne n’espere

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À force de maigrir

Elle a disparu

Dans l’imprécision de ses propres pensées

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En regardant par la fenêtre

J’ai décidé de sauter

À la prochaine page du livre

Só vim pra dançar

Ela resolveu ficar na balada sozinha. Não era a primeira vez. Era sexta-feira e, depois de duas semanas de muito trabalho, ela só queria dançar. Os amigos foram pra outro lugar depois que o showzinho de samba acabou, mas ela resolveu ficar porque a DJ que entrou em cena tinha em seus vinis um repertório de funk e soul. Ela não queria trocar aquele som pela playlist do TVZ. Deixou os casacos pendurados perto da mesa onde estava seu mojito. E dançou.

Um tempo depois um italiano, bonito e de barba cerrada chegou, também sozinho, e pendurou seus casacos ali perto. Buscou uma bebida e começou a dançar. O lugar se enchia de gente e os dois estavam ali dançando, sozinhos. Ainda que mal se olhassem e a distância continuasse, de alguma forma se sentiam cúmplices, talvez pensassem “Não sou o único a dançar sozinho”.

Alguns caras olhavam a moça dançando, mas não se arriscavam. Ela já com uma cerveja na mão, dançava, de olhos fechados. “Típico”, diriam as amigas. Um rapaz resolveu conversar com ela. Mas se a aparência já não era atraente, a abordagem era enfadonha. Antes mesmo de querer saber seu nome, perguntou se ela estava sozinha, com um ar de espanto.

No meio da noite, um indiano que mora em Londres, chegou, muito bem vestido, com um grupo de amigos. Eles também só queriam dançar. E, por isso, dançaram com ela. Sem fazer qualquer pergunta. Apenas dançaram. O italiano continuava ali perto, dançando. Às vezes saía, dava uma volta e retornava. O rapaz inconveniente foi se despedir da moça. Achou ruim que ela não deu seu número de telefone e disse “Você é muito bonita para estar sozinha”. Já na terceira cerveja, ela não conseguia entender qual era a lógica naquela frase.

Depois de um tempo, o italiano pega seu cachecol e com um sorriso se despede da moça, ela se aproxima e ele explica que sua namorada o está esperando em casa (ao menos é nisso que ele acredita). Antes de continuar a se vestir ele pergunta se eles podem dançar juntos uma última música. E dançam. “E por que sua namorada não veio?”, perguntou. Eles haviam brigado. “Precisava sair de casa para arejar a cabeça”. Ele mora naquela cidade há seis anos, mas disse que já estava cansado de lá.  De fato, Alberto tinha o semblante cansado. Eles se despediram.

Ela continuou dançando e depois seguiu caminhando pela rua movimentada até o ponto de ônibus, meio bêbada, meio realizada, meio satisfeita e meio dormindo, com medo de perder o lugar certo de descer. Na cabeça martelava: Mulher sozinha não pode se divertir? Ou mulher não pode se divertir sozinha? Mulher não pode.

Lembranças de uma ex JCA

Estudei no Colégio Estadual Professor José Carlos de Almeida de 1995 a 1999. Soube que a unidade havia sido desativada quando os alunos ocuparam o prédio no final do ano passado. Muita coisa passou pela minha cabeça, em especial as lembranças. Em 2010 ou 2011, voltei a entrar lá pela primeira vez, agora a trabalho, como jornalista, para fazer uma gravação. Vi uma mulher mais velha sentada em uma sala que imaginei que talvez pudesse ser minha professora da 1ª série, Dinorah. Tinha uma vaga semelhança com o semblante que eu tinha em mente. O colégio parecia bem menor do que tinha na lembrança.

Meus irmãos mais velhos também estudaram aí. Na época, só eram oferecidas turmas até a 8ª série (que hoje é 9ª). O ensino médio foi incorporado justamente no ano em que eu entrava na 5ª série e passaria a estudar de manhã. Mas tive que esperar porque com a reorganização das salas, minha turma continuou no turno vespertino. Estudar de manhã era então um sinal de que você estava ficando mais velho, amadurecendo. Continuar a estudar à tarde foi uma frustração.

O trajeto para o colégio no centro da cidade, desde o Jardim América, bairro onde morava, era feito no Chevette, depois substituído por um Passat. E no caminho minha mãe ia parando em todos os pontos de ônibus onde tinha um jovem com a camiseta azul para lhes dar carona. O uniforme tinha a mesma cor da tinta da fachada do colégio.

Na portaria estava Chiquinha, uma mulher mais velha, negra, com cabelos curtos, muito curtos, de óculos de grau. Ela conhecia todos os alunos e nos avisava quando os responsáveis por nos buscar chegavam.

O colégio tem um pátio grande, onde corríamos, jogávamos queimada, pulávamos elástico. Uma vez até tive torcicolo na tentativa de dar um salto quando o nível da brincadeira chega no pescoço. Thábata, Laura, Fernanda, Sarah, Kamylla, eram as amigas que me recordo os nomes. Com Fernanda tenho contato até hoje pelo Facebook, até meu primeiro ano de faculdade ainda saíamos juntas. A Kamylla, reencontrei em 2011, por acaso, quando fui pedir informação em um Studio de pilates perto de casa. Ela estava me atendendo e então perguntou se eu me lembrava dela. Um tempo depois levou uma foto de seu aniversário de 7 anos em que eu estava. Thábata era baixinha, magrinha, do cabelo liso castanho, com franja e óculos, super estudiosa. Fazíamos trabalhos juntas, na minha casa ou na dela. Dos meninos, só me lembro do Luiz Carlos, o mais bonito da turma, moreno, de olhos claros.

Dentro do colégio tinha uma parte com aqueles aparelhos fixos de fazer ginástica presentes nos parques de Goiânia. Lá eu cortei minha cabeça, tentando me pendurar de cabeça para baixo com uma tiara de miçanga na cabeça. Nada grave. Em outro aparelho, cortei a mão quando dedurava um menino aos colegas que brincavam de pique esconde. Esse foi mais grave. Corri para o tanque que tinha embaixo de uma enorme caixa d’água para lavar e resolver sozinha, afinal foi isso que fizeram quando cortei a cabeça. Mas não funcionou. Ligaram para os meus pais e fui para o Hugo, levar uns 10 pontos na mão, os únicos até hoje. Era época de provas e havia machucado justamente a mão que precisava para escrever. A professora avisou na sala que eu era a única que podia responder com letra feia.

Os lanches são uma lembrança à parte. Dois ou quatro alunos eram escolhidos para buscar na cozinha as bandejas com as cumbucas de comida, galinhada era uma delas. Às vezes tinha bolo com iogurt no saquinho ou mesmo suco. Nesses dias fazíamos uma fila na porta da cozinha.

À medida que a idade avançava a quantidade de turmas aumentava. Se antes ia só até a letra B, na 5ª série ia até a letra E.

A localização no centro da cidade era uma grande vantagem. Íamos a pé até o Teatro Goiânia assistir peças de teatro. Me lembro também de uns Jogos Indígenas no Ginásio Rio Vermelho, quando ele ainda funcionava.

Em época de festa junina, cada série preparava a apresentação de uma quadrilha. Os alunos ajudavam vendendo uma espécie de rifa. O desenho que fazia referência à festa tinha uma fogueira com várias chamas. Cada uma custava 50 centavos e à medida que ia vendendo era preciso pintá-las. Quem vendesse mais se tornava a rainha e o rei daquele ano. Consegui esse feito uma vez quando passei de porta em porta no meu prédio que tinha 13 andares com 8 apartamentos em cada.

Uma vez por ano recebíamos a visita também de um grupo de pessoas, com seus jalecos brancos, seus vídeos e seus kits de escovas de dentes. Muito provavelmente eram alunos da UFG na disciplina de saúde coletiva ou algo parecido. Aprendíamos sobre cáries, sobre alimentação, sobre escovação… Por falar em alunos, seja do antigo Magistério ou de alguma licenciatura, sempre tinha também aquele pessoal mais velho, geralmente mulher, que sentava no fundo da sala fazendo suas anotações.

Uma das minhas professoras da 2ª série se chamava Adriana, baixinha, morena, tinha o cabelo liso, preto que ia até a bunda. Na 4ª série foi a vez da Joventilha. Mais velha, rigorosa, tinha métodos de ensino bem dinâmicos. Abandonava por um tempo o livro de ciências sociais, para explicar a História de Goiás. Ensinava matemática com brincadeiras que incluíam árvores e maçãs de papel pregadas no quadro. E a cada resultado de provas dividia a turma em grupos liderados pelo aluno com a nota mais alta que tinha que ajudar os demais colegas. Quando as notas iam subindo, estes alunos se tornavam os líderes de novos grupos. Ela nos fazia ensaiar músicas para apresentar em atividades do colégio. E nesse mesmo ano tivemos o curso do Proerd, ministrado por um policial militar sobre os perigos do uso de drogas, desde álcool e cigarro, até outras mais pesadas. Tinha um livro como material didático e no final teve até formatura do curso, em um ginásio que não me lembro onde era.

Lembranças soltas que de alguma forma fazem parte de mim, da minha história. Que ajudam a compreender o funcionamento do ensino, a criticá-lo, a repensá-lo. Lembranças essas que são perdidas a cada escola fechada e a cada jovem silenciado.

É dia de Reis, em Barcelona

Depois de três anos seguidos acompanhando a festa de reis em Juiz de Fora, em 2016 tive que me contentar com fotos e vídeos enviados pelo whatsapp ou vistos no face. Enquanto no Brasil o ápice da festa é o almoço do dia 6 de janeiro, em Barcelona, na Espanha, as pessoas aguardam o famosa Cavalgada dos Reis na noite do dia 5.

Na Espanha, o dia de reis é muito tradicional e festejado principalmente pelas crianças. Antes do monopólio do Papai Noel e sua entrega de presentes no Natal, a tradição era esperar os reis no dia 6 para receber seus pedidos, seguindo a narrativa bíblica, já que os 3 reis entregaram seus presentes a Jesus no dia 6, quando finalmente chegaram à manjedoura.

Aqui as lojas anunciam em suas vitrines a chegada dos reis e fazem promoção para a compra de presentes. Além disso, no dia 6 de janeiro costuma-se dar doces para as crianças, como nosso dia de São Cosme e Damião.

Me parece que na Espanha o dia de Reis é realmente esperado e celebrado em grande parte das famílias, sendo inclusive feriado nacional. Mas enquanto aqui é uma festa mais voltada para crianças, no Brasil o dia de Reis é uma festa dos grupos de folia com suas comunidades, sejam seus bairros ou toda a cidade reunida em almoços e cafés da manhã comunitários. Enquanto na Espanha celebra-se a espera pelos presentes, no Brasil celebra-se o fim do sacrifício empreendido pelos reis magos para encontrar Jesus.

Sobre a cavalgada em Barcelona, é bom destacar que se trata de uma festa institucionalizada, organizada pela prefeitura (No Brasil, muitas folias também recebem apoios institucionais, mas elas continuam tendo um certo protagonismo em relação à festa). É um desfile por ruas pré determinadas que conta com coreografias e pequenos carros alegóricos, algo mais próximo do que nós brasileiros conhecemos como os desfiles de carnaval, por exemplo, guardadas as devidas proporções. É algo para ser visto, diferentemente das folias de reis no Brasil.

Apesar de se chamar cavalgada, apenas a guarda municipal que vai à frente está montada. As pessoas se aglomeram em todo o trajeto, que não é curto, para ver a passagem dos reis. As sacadas e janelas dos apartamentos pelo caminho ficam abarrotadas de gente, com uma vista privilegiada. Do alto, jogam confetes, serpentina e papel picado, dando um colorido a mais no inverno de casacos pretos, cinzas e marrons, em sua maioria. As pessoas levam escadas para as ruas para poderem ver melhor o desfile.

Confesso que não entendi bem o significado de todos os carros do desfile, mas no geral eles estão relacionados aos reis magos e aos presentes. Há um carro das chupetas que, pelo que entendi, é uma tradição as crianças menores se desfazerem delas nessa data. Há também os correios dos reis magos, onde várias pessoas com cestinhas recolhem as cartas das crianças no trajeto com seus pedidos.

As músicas com toque oriental ou africano acompanham os carros dos respectivos reis, já que uma das narrativas criadas mundialmente é que cada rei representa um continente (a América ainda “não existia” quando tal narrativa foi criada). Por fim, dois carros jogam balas para os que acompanham o desfile.

 

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